quarta-feira, 1 de julho de 2009

Ficção 1

Despertou no que era o completo nada. De súbito surgira ao vácuo de sua consciência um ruído que se assemelhava a uma lenta hélice de avião. Era agradável, como um som de moinho, e cortava o silêncio antes que este se tornasse um incômodo. Quando o som no escuro tornara-se demasiado repetitivo, se deu conta de seus membros, dos olhos, os quais tentou abrir pela primeira vez. Relutantemente separou as pálpebras, uma visão irritada pelo simplesmente branco, um claro que lentamente se focava. Viu que se encontrava sobre a superfície lisa de um imenso salão. Apoiou-se nos braços e se ergueu, experimentando a prazerosa sensação de altura, ao ampliar significativamente seu campo de visão. Um homem alto de cabelos negros recostava-se à parede junto à janela, com o olhar vago por trás dos óculos retangulares que se estendia pelo ambiente afora, fixos em um ponto inespecífico. Trajava uma camisa social ligeiramente aberta, posta para dentro das calças pretas, sobre os pés de sapatos de verniz que se cruzavam. De repente abandonou sua posição de repouso e começou a caminhar a passos nervosos e circulares, assim como seus pensamentos. A garota recém-acordada o observava curiosa de um canto da sala, ainda despercebida e sem nada dizer.

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